quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Polícia para quem?!?! Precisa???




Costumo dizer que, nas décadas de 80 e 90, do já passado Século XX, com a expansão do ensino público, os principais parceiros da escola, para ajudar a resolver os problemas de aprendizagem que seus alunos apresentavam, eram os profissionais da área "psi": psicopedagogos e psicólogos clínicos, bem como psiquiatras e neurologistas.
Como se pode deduzir da natureza destas parcerias, a maior preocupação dos profissionais da educação era com o baixo desempenho dos alunos no quesito aprendizagem. Obviamente, este estado de coisas gerou uma série de discussões, reflexões teóricas e pesquisas empíricas (ver Cabral e Sawaya) que buscavam compreender e modificar este cenário, visando sempre a melhoria da qualidade educacional.
Nesta década que estamos encerrando, entretanto, tem havido uma nítida mudança nos problemas que afligem as comunidades escolares e nas alternativas encontradas por estas para resolvê-los. Se a escola não se encontrava preparada para lidar com as dificuldades de aprendizagem - cerne do seu trabalho -, não era de se esperar que desse conta do acelerado crescimento da violência, tanto no seu entorno quanto dentro dos seus muros.
Esse despreparo levou professores e diretores a sentirem-se mais seguros com a companhia de quem também não tem formação adequada (muito menos vocação) para lidar com a indisciplina e a violência tipicamente escolares: a polícia!
 Parece que nós, brasileiros, temos uma inclinação para atacar as consequências, enquanto as verdadeiras causas do problema ficam intactas. Agimos topicamente, remediando e punindo, quando deveríamos buscar ações preventivas e educativas, que costumam ter efeitos muito mais duradouros que as primeiras.
Assistindo ao primeiro vídeo dessa postagem, tive a impressão que o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais da Polícia do Rio de Janeiro - BOPE - Rodrigo Pimentel, também tinha chegado à conclusão de que a violência se combate com mudanças estruturais, dentre as quais, certamente, está a educação.
Pimentel, cujo alter-ego é o capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite, diz ter abandonado a polícia por não acreditar mais na maneira como ela lidava com o tráfico. Afirma ainda que acha que pode colaborar mais na guerra contra o tráfico, produzindo filmes, escrevendo livros, fazendo comentários e dando palestras, do que invadindo morros e trocando tiros com traficantes. 
Curiosamente, entretanto, ao se deparar com um caso de depredação escolar num estabelecimento de ensino no Rio de Janeiro, motivado, muito provavelmente, pelas condições inadequadas de funcionamento da escola, o ex-capitão Pimentel "recomenda" a interferência policial  (infelizmente o vídeo foi excluído), numa situação que é claramente "caso de educação", ou melhor, de falta dela. Quando falo em falta de educação, não me refiro apenas aos depredadores mal-educados. Refiro-me, principalmente, à educação que é negada a esses jovens. Observemos que o incidente se dá em função de NÃO haver aula naquele dia e os alunos sequer terem sido avisados. O relato do funcionário da escola é claro: falta uma estrutura mínima para que a escola funcione adequadamente. Não é comum ouvirmos relatos de depredação ou de vandalismo em escolas bem administradas e que buscam cumprir seu papel perante a sua comunidade. Não quero, com isso, dizer que a melhor maneira de protestar contra o descaso dos governos é apedrejar a escola. Não mesmo! Mas precisamos compreender que diversos seguimentos da sociedade, quando lutam pelos seus direitos, paralizando as suas atividades, por exemplo, provocam alguns danos a algumas pessoas e, ainda assim, defendemos o direito de greve.
Enquanto a nossa educação não for respeitada, profissionalizada, ficaremos à mercê de opiniões e interferências externas, tentando agradar a este ou aquele setor da sociedade, que pensa que a escola deve fazer isso ou aquilo. O caminho para a melhoria todos conhecem: formação adequada, condições de trabalho apropriadas, salários condizentes e currículo significativo! Polícia, só para quem precisa...



2 comentários:

  1. Olá Iron,
    A sua postagem está excelente, principalmente quando aponta as raízes da questão da violência na escola. Mas gostaria de sugerir que revisse algo do que coloca sobre a participação da polícia, pois até onde soube, ela só comparece dentro da escola quando é solicitada. No mais, cuida do entorno quando há problemas que são de sua alçada. Sei que existem vários problemas com relação a isso, mas ao mesmo tempo existem pessoas sérias tentando oferecer o apoio que é solicitado. Uma amiga esteve em sala com armas em sua cabeça, postas por dois estudantes ligados ao tráfico, que na semana seguinte foram mortos pelos grupos rivais. Ela ficou com pânico de voltar às aulas. Mas está lá...eu não sei se teria a mesma coragem...Outra colega está na UEFS participando e convidando colaboradores para uma ação conjunta da universidade, município, escolas e polícia militar, para tentar avançar em relação ao cuidado com as causas da vilência tão bem apontadas por você nesse texto...talvez pudessemos nos juntar e contribuir mais de perto...o que acha? Eu já tentei chegar na reunião desse grupo...vou tentar outra vez ainda...fica em Saúde Coletiva...

    ResponderExcluir
  2. Ivone,

    Concordo com vc, mais do que discordo. Acho que a participação da polícia é importante em relação à violência que é originada fora da escola, independente desta, mas adentra os seus muros. É o caso mais gritante do tráfico e do crescente uso de crack, das richas entre gangues e dos furtos e roubos aos equipamentos escolares.
    Nestes casos, é evidente que os políciais são os mais habilitados para a intervenção. O grande problema, que é onde incide a minha crítica, é quando a polícia é chamada - e tem sido, com frequência - para resolver assuntos tipicamente escolares, como a indisciplina, os pequenos furtos e os protestos pelos maus serviços prestados. Assim como o professor deve saber os limites da sua ação pedagógica, para recorrer a outros profissionais que possam ajudar o seu aluno a aprender melhor, ele deve delimitar quais comportamentos do aluno são de sua responsabilidade, para que as autoridades policiais não tenham que assumir a responsabilidade de educar as nossas crianças e jovens.
    Muito obrigado pela contribuição!!!

    ResponderExcluir